sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Sempre detestei multidões.

Eu me lembro bem como tudo ocorreu naquele dia quente e rotineiro:
Eu estava lá, em meio a uma multidão, impaciente e morrendo de vontade de sair correndo dali até o pólo norte para fugir do calor. O calor era realmente infernal e o suor escorria por minha face. O barulho das pessoas conversando se associava ao barulho dos automóveis e das construções nos arredores.
Parei em frente ao sinal que parecia nunca permitir que eu fugisse dali. Um cheiro de flores tomou conta do lugar e olhei em volta a procura da fonte de tal cheiro. Nada encontrei. Sinal aberto, atravessei a rua. O outro lado parecia mais lotado, parece que todos resolvem sair de suas casas no mesmo momento e para o mesmo lugar.
Eis que, no meio de tantos indivíduos, um rosto me chamou a atenção. O cheiro de flores que, até então, havia desaparecido voltou a tomar conta do meu interior. Sim, as flores não estavam no meu exterior, estavam no meu interior. Nunca havia sentido aquilo até aquele momento, nunca havia visto nada igual. Não lembro o que aconteceu com todas aquelas pessoas, só lembro que todas desapareceram, restando apenas aquele rosto, todos pareceram ter se calado e os carros pareciam ter parado, restando apenas o pulsar do meu coração, o cheiro das flores que vinham de dentro de mim e aqueles olhos sorridentes que olhavam o meu olhar assustado.
Parecia que eu estava finalmente em frente daquele com o qual eu viveria até que a morte nos separasse.
Mas que idiotice! Pensei que seria melhor continuar ali caminhando, o que eu falaria a ele? "Oi, vem sempre aqui"? Mas eu não resisti, fui seu encontro.
Corri em sua direção sem saber o que falar, eu tentei criar um texto, ele acharia que estava louca, é claro! Qualquer um acharia isso... Porém, eu não poderia perder esta chance. O que eu perderia, afinal? No máximo eu teria de voltar para casa envergonhada.
As pessoas e o barulho ressurgiram, o cheiro de flores foi substituído pelo cheiro de pipoca que vinha de um carrinho que estava parada por perto. Esbarrei em muitas pessoas e nem sequer pedi desculpas, afinal, eu não podia parar.
Naquele momento, sentia apenas receio. Agi completamente com a emoção.
Já estava a poucos metros quando parei de correr e fui caminhando lentamente. Um misto de sensações tomou conta de mim. Àquela altura nem sentia mais o chão sob os meus pés, não sentia minha respiração.
Ele parecia esperar alguém, parecia estar ali há muito tempo.
Ao me aproximar, a ponto de não haver nenhum obstáculo entre nós, ele me olhou nos olhos, abriu um largo sorriso e disse:
-Estava te esperando.
Não consegui entender o que estava acontecendo. Como ele estava me esperando se, até aquele momento, nós não nos conhecíamos? Como ele sabia que eu iria ao encontro dele? Me limitei a fazer uma pergunta:
- Esperou muito tempo?
Ele respondeu, após um leve suspiro:
-Dezenove anos.

3 comentários:

  1. Nada como a boa e velha troca de olhares pra se fazer pulsar o coração, acompanhado de acontecimento inesperado.
    Muito bom!
    bjo, moça.

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  2. Uoooooooou

    As mulheres só deveriam amar rapazes de 19 anos.

    isso já foi meu nick do orkut

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