terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Quase não preciso de você

Seu aniversário é na próxima semana, eu pensei em comprar aquele novo cd da banda que nós costumávamos ouvir e cantar juntos e enviar junto a algum cartão com palavras bonitas e bombons de chocolate meio-amargo, que eu ainda lembro que você adorava, mas me resumi a escrever esta carta. 
Quatro meses se passaram desde a última vez que nos falamos. Lembro-me que você acabara de voltar de viagem e parecia feliz, me contou alguns planos para os meses que viriam e se despediu prometendo voltar a dar notícias o mais rápido possível. É, ainda espero que me mande notícias.
Pouco depois do seu sumiço, eu voltei a caminhar no calçadão e me dei conta de que já não tenho mais a sua conversa agradável que diminuía as distâncias e acelerava ponteiros dos relógios. Continuo indo até o mesmo ponto, ele fica a cada dia mais longe. O senhor que sempre nos vendeu água de côco continua lá. Não é mais você quem fala "dois bem gelados, amigo", com ênfase no "bem". O côco gelado não tem o mesmo gosto e o farol não parece mais tão bonito. O mar parece mais distante, o senhor parece mais triste. E eu também.
Há dois meses, consegui aquele emprego que eu tanto sonhava, te liguei para avisar, mas você não atendeu. Não sei se você continua com o mesmo número de telefone. Pensei em deixar recado na caixa postal, mas meu orgulho não deixou. Talvez tenha sido melhor assim.
Há algumas semanas me disseram que hoje você caminha, conversa, divide seu tempo e seus bombons meio-amargos e canta outras músicas com um novo alguém. A informação me levou ao passado e, por um momento, fiquei triste. Você costumava dizer que eu era a única no mundo capaz de fazer com que você cantasse músicas que falam sobre o que você chamava de 'romancezinhos'. Mas a tristeza logo passou.  Agora, já consigo sorrir e voltei à minha rotina. Até ensaiei alguns romances, que não deram certo. Mas eu não me preocupo com novos romances, eu nunca saio bem deles. 
E é por não conseguir me sair bem deles que, até hoje, à noite, antes de dormir, a tristeza volta, eu abraço o travesseiro, vejo sua imagem e repito calmamente "você, você, você".

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A chegada do natal me deixa um tanto sensível.

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