terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Bônus!

O que Watson disse

A primeira conversa telefônica foi entre Alexander Graham Bell e seu assistente, Thomas Watson. Em Filadélfia. 1876. Bell fazia uma demonstração do telefone recém-inventado para diversos convidados, inclusive Dom Pedro II, imperador do Brasil. Watson estava numa sala ao lado. Bell o chamou:
-Watson, venha cá.
Nada aconteceu. Bell falou mais alto:
-Watson, venha cá imediatamente!
Silêncio. Bell gritou:
-Watson, eu preciso de você!
Nada. E então Bell disse aos convidados, sorrindo, "Agora vamos tentar com a minha invenção", pegou o telefone, discou 1 e, quando atenderam do outro lado, falou com sua voz normal:
-Sr. Watson, venha até aqui. Eu preciso do senhor.
Esta é uma versão algo fantasiosa do que aconteceu. Mas o que realmente ninguém ficou sabendo, pois ninguém ouviu, foi como Watson atendeu o primeiro telefonema na outra sala.
Ele pode ter sido apenas solícito:
-Sim, senhor.
Pode ter sido destraído: 
-Quem está falando, por favor?
Pode ter sido brincalhão:
-Desculpe, o sr. Watson está em reunião.
Ou pode ter sido vidente e filosófico e dito:
-Já vou, Mr. Bell. Mas o senhor tem consciência do que acaba de inventar? Já se deu conta do que começou? Está certo, isso vai facilitar a comunicação entre as pessoas. Vai ser ótimo para chamar a ambulância ou os bombeiros, marcar encontros, avisar que a tia Djalmira morreu, namorar, ligar para o açougueiro e dizer "muuuuu", pedir pizza, tudo isto. Mas o senhor também acaba de inventar o despertador, a ligação no meio da noite que quase mata do coração, o engano, a pesquisa telefônica... E o celular, Mr. Bell, O senhor não sabe, mas acaba de inventar o celular. Vai demorar um pouco, mas um dia esta sua caixa vai caber na palma da sua mão e vai ter câmera fotográfica, calculadora, TV, raio X, bote salvavidas inflável, e vai acabar com a vida privada como nós a conhecemos, Mr. Bell. As pessoas vão andar na rua espalhando suas intimidades e não teremos como nos proteger. Ficaremos sabendo de tudo sobre todos, inclusive os detalhes da doença da tia Djalmira, e...
-Sr. Watson...
-Já estou indo, já estou indo.


Luís fernando Veríssimo

Um comentário:

  1. Sr. Watson, gostaria de apresentar minhas congratulações pela imaginação tão livre de escrúpulos. Quer dizer, uma coisinha barulhenta e incoveniente que vai acabar sendo indispensável na vida de milhões de pessoas neuróticas e estressadas... Não vai pegar.

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