sábado, 21 de fevereiro de 2009

A 1.655 metros de altura

Já estava ali e não havia saída. Aliás, havia várias saídas de emergência, mas não era o caso. Qual era o caso? Se em algum momento sentiu medo, já nem lembrava mais. Olhava a janela, observava atentamente cada nuvem com suas formas e ausência de cores. Cinza e branco são cores? Olhava para o lado, ele ainda dormia. Ele sempre pareceu dormir, não fazia tanta diferença agora só porque se encontravam a 10.655 metros de altura. Seus olhos permaneceram nas nuvens, mas seu pensamento agora estava em terra firme. Sentiu saudade, não dos que deixou no aeroporto, mas do que deixou no passado. Ah, o passado...
Ele não dormia, só não queria atrapalhar seu pensamento, ele sabia que ela precisava ficar só. Ela sempre pareceu se incomodar com suas atitudes, já estava na hora de parar. Mas mil palavras invadiam seu interior e pareciam querer fugir. Ele tinha discursos enormes feitos para ela, mas as malditas palavras parecem se esconder assim que ele resolve libertá-las. Ele abriu os olhos e, olhando para a janela, falou o que lhe veio à mente.

-É bonito, né?
-Muito
-Parecem bolas de algodão gigantes e flutuantes
-Mas não são nada doces, nada é doce
-Claro que é doce, doce como a vida!
-Vida doce... Isso é paradoxal
-Você 'tá chorando?
-Eu tô
-Sentindo saudades?
-Não...
-Posso saber o que aconteceu?
-É que eu descobri que o céu não existe.

_


Um comentário: