sábado, 7 de fevereiro de 2009

Cenas de um filme em branco e preto


Saudade. Era a única coisa que podia sentir naquele momento. Mas aquele aperto no peito agora seria substituído por borboletas no estômago. Ah, há quanto tempo borboletas não faziam visitas ao seu estômago? A última vez foi quando choveu, lembrou, parece que a chuva faz com que o frio invada o ego de qualquer um, trazendo uma sensação genérica à de borboletas no estômago. Não era tão ruim, o frio e a chuva traziam boas recordações, mas apenas o café amargo e fotos compartilhavam tais lembranças.

Café e fotos não eram suficientes. Tudo bem que as fotos riam junto e o cheiro do café transportava-a até o passado, mas era necessário muito mais. Era necessário o abraço amigo, o abraço irmão, o abraço amante. É, é impossível ser feliz sozinho, concordou com Tom Jobim. Ou a frase é do Vinícius? O que importava a frase? Concordava e pronto. Riu consigo. Com tantas coisas a serem feitas, pra quê se preocupar com um trecho de música?

Olhou-se no espelho, não podia ver as diferenças que ocorreram nos últimos cinco anos, era impossível enxergar com os olhos tais mudanças. Mudanças físicas não importam mesmo. Ah, mas os seus olhos, eles pareciam felizes agora. Jogou-se na cama, sorriu, cantou.

Correu até o armário, tentou escolher a melhor roupa, mas nunca conseguira tal feito. Escolheu a combinação mais óbvia e vestiu. Mexeu muito no cabelo e o deixou da mesma maneira que sempre costumava usar. Sentou em frente ao relógio e acompanhou o ponteiro por muito tempo. Nem prestava atenção ao tic tac, não estava ali mentalmente. Não entendeu o que ainda fazia ali e correu. Desceu as escadas por pressa, não queria esperar o elevador. Passou correndo pela portaria e, ao chegar na rua, caminhou lentamente. Não queria se livrar tão rapidamente desse aperto no coração. Seres humanos parecem gostar de sofrer. Caminhou, fantasiou o que todas aquelas pessoas faziam na rua, imaginou seus destinos, suas vidas, seus amores, suas saudades. Será que todos têm saudades? Pensou em músicas, percebeu o quanto gostava de músicas, às vezes elas parecem ser só suas. Músicas estão sempre presentes nas ocasiões especiais. Nas não especiais também. Mas não há momentos não especiais, tudo é especial, cada momento é especial, até quando estava rindo só com a presença do café e de fotografias que um dia se tornariam amareladas... Por que tanto otimismo agora?

Caminhou até chegar ao boteco com placa de restaurante. Entrou, observou as pessoas que estavam lá. Ninguém lhe parecera familiar. Ninguém, exceto o indivíduo da última mesa, canto esquerdo. A mesma mesa de sempre. Acenou e caminhou até lá.

Sentou-se e observou as mudanças que ocorreram nele. Elas podiam ser vistas pelos olhos, mas seu coração dizia que o interior dele ainda era o mesmo. O silêncio prevaleceu até a chegada do café, sempre presente em momentos especiais e não especiais, apesar de momentos não especiais não existirem.

-Café com açúcar?

-Com açúcar, com afeto.

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Foto: http://www.flickr.com/photos/renatamenezes/

3 comentários:

  1. Renata e seus textos para refletir ;)

    Ermm..esse cara, vc se inspirou em alguem? :)

    Supus que era um cara :P

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  2. Sinto um pouco de confusão nesse texto. Não pela sua estrutura, você escreve muito bem. Mas pelo sentimento que ele passa.

    Pessoas indecisas existem em demasia, pessoas que decidem por sofrer é algo inovador! Não nos damos conta que escolhemos isso, sempre botamos a culpa no destino e coisa e tal.
    É a vida, sempre com suas brincadeiras de mal gosto e o gosto do café nos remetendo a lembranças dessa vida.

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