domingo, 4 de outubro de 2009

De um povo heróico o brado retumbante

Meu pai é um nacionalista fanático, desses que acham lindas as propagandas que o governo coloca na televisão dizendo "sou brasileiro e não desisto nunca" e que acha bonito, também, sair declamando isso por aí "é, meu amigo, não ganhei na mega-sena dessa vez, mas eu sou brasileiro e não desisto nunca". E assim, sendo brasileiro, há 30 anos ele aposta na mega sena sem ganhar nenhum grande prêmio.
Mas eu não tô aqui pra falar de como o brasileiro é um povo persistente ou que a mega sena é furada.
Com todo o seu nacionalismo, meu pai fez questão de ensinar o hino aos seus filhos e, principalmente, como se comportar diante da sua execução.
"Não importa onde você esteja, levante-se e ponha a mão direita no lado esquerdo do peito, levante a cabeça, não cante e nada de aplaudir ao fim, apenas continue o que estava fazendo antes"
Meu pai veio de uma geração que passou pela ditadura militar, àquela época tudo o que se fazia devia ser por amor à pátria, meu pai era obrigado a cantar o hino todos os dias e havia matérias que tinham como função germinar o sentimento nacionalista nas cabeças dos jovens. O negócio é que meu pai absorveu isso, e depois ele viria a se revoltar contra os mesmos que lhe ensinaram o amor à pátria por amor à pátria. Mas eu já disse que vim aqui pra falar do hino.
Outro dia eu fui assistir a uma apresentação da minha sobrinha na escola e antes disso eles colocaram o hino nacional pra tocar. Ao fim, uma mulher que estava sentada atrás de mim, com uma voz que era um misto de choro e alegria, disse "esse hino é lindo, eu me emociono todas as vezes que escuto". A frase da mulher me lembrou uma cena da minha mãe, numa final de copa do mundo, dizendo "mas o hino do Brasil é bonito mesmo, nenhum ganha dele", ou de como meu irmão gritou comigo na última copa por estar cantando o hino da França no início do jogo.
Todo o brasileiro nacionalista-de-copa-do-mundo-e-olimpíada faz questão de cantar em uníssono o hino no início das partidas esportivas, principalmente se forem de futebol e agora as criancinhas de escola pública são obrigadas a, pelo menos uma vez na semana, presenciar a execução do hino. É bonito como todo o mundo grita "verás que um filho teu não foge à luta", mas reclama se tiver de sair de casa pra votar e ainda faz besteira diante de um aparelho tão simples que é uma urna, mas chega dessa propaganda à la globo, meus queridos, o fato é que eu só quero abrir os olhos de vocês pra uma parte:

"Brasil, de amor eterno seja símbolo
O lábaro que ostentas estrelado,
E diga o verde-louro dessa flâmula
- "Paz no futuro e glória no passado."

O hino foi criado há 100 anos, o futuro é exatamente hoje. Por favor, me mostrem onde é que tá paz ou criem um novo hino que esse já tá manjado.
E não obriguem as criancinhas a ficar debaixo do sol no pátio da escola cantando um hino que não tem nada a ver com a realidade delas, não quero uma nova geração de sr. Ruy por aí.

Obrigada.

2 comentários:

  1. eu bem gostaria de ver uma geração de piadistas incorrigíveis

    ResponderExcluir
  2. Temos que lutar para mudar, mas nao lutar contra nosso hino. Temos que criticar o fato de criancas serem obrigadas a cantar o hino debaixo do sol quente etc., mas creio que todos , sim, devem aprender o hino. Estou fora do Brasil, tenho andado muito e nao entendo por que so o brasileiro que deve desvalorizar seu hino.
    Vamos trazer para a realidade, como voce fez, mas nao deleta-lo

    ResponderExcluir