quarta-feira, 3 de junho de 2009

Anotações sobre um amor interurbano

"Há alguns dias, Deus — ou isso que chamamos assim, tão descuidadamente, de Deus —, enviou-me certo presente ambíguo: uma possibilidade de amor. Ou disso que chamamos, também com descuido e alguma pressa, de amor. E você sabe a que me refiro. Antes que pudesse me assustar e, depois do susto, hesitar entre ir ou não ir, querer ou não querer — eu já estava lá dentro. E estar dentro daquilo era bom."
Só estou escrevendo pra avisar que eu pensei em você às três, às quatro, às cinco, às seis da manhã e isso se sucede até agora e talvez persista até amanhã, próximo mês, próxima semana, próximo ano, quem sabe até a hora da minha morte.
Talvez a culpa seja das coisinhas como a chuva fina no início da manhã, o barulho do mar no fim do dia, o filme romântico na sessão da tarde ou das borboletas que habitam meu estômago, tudo isso me obriga a querer que você esteja ali, do meu ladinho, compartilhando aqueles momentos tão inúteis comigo. Ou você é o culpado por eu perceber os passarinhos voando no alto dos prédios, o azul do céu tão igual ao azul de ontem como se fosse raro, o filme da sessão da tarde como se fosse inédito o prazer de sair correndo pela chuva como se fosse imune a resfriados e aquelas borboletas bailando dentro do meu estômago.
Eu queria muito, muito mesmo, que vontade e coragem andassem juntinhas, unidinhas, lado a lado, de mãos dadas, porque é só a coragem que me falta mesmo, vontade eu tenho de sobra, porque eu pretendo caminhar levando você comigo em pensamento até o momento em que eu tomar uma alta dose, daquelas de embriagar, de coragem e largar todos esses vícios, coleções, coisas materias que só servem pra tropeçar, sair correndo pela estrada que nos une e nos separa no meio da chuva fina quase de manhã até chegar pertinho de você e te falar todas as coisas só com os olhos, sem pronunciar nenhuma palavra, no máximo um ruído, um suspiro por cansaço, alívio, prazer e fazer você abandonar seus cds, seus papeis e todas as suas coisas materiais, te convencer a fugir comigo pra Sibéria, Alasca, Rússia ou qualquer lugar assim, que aparecem nos filmes da sessão da tarde, frio e com céu azul, onde eu possa repousar minha cabeça no seu ombro em busca de calor e da sua voz falando qualquer frase besta e piegas tocando lá nas veias próximas ao coração acalmando as borboletas, ou agitando-as ainda mais.

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