terça-feira, 14 de julho de 2009

E ele dizia 'ainda é cedo'

Eu lhe perguntava "por que não foi ainda" a cada 10 ou 15 segundos, o que eu menos tinha era noção de tempo, espaço, ridículo ou qualquer coisa da qual seja necessário ter noção. Ele nem me olhava, só tinha a cabeça baixa, mãos e coração vazios e soltos. Ora, por que não tinha ido ainda? Vamos, meu rapaz, levante-se, você não tem tempo a perder e eu já perdi o que podia e o que não devia. Ele não reagia aos meus pedidos, no máximo balançava as mãos, respirava fundo ou mordiscava os cantos da boca, mania que me irritava profundamente desde quando eu o conhecia, mas eu só me dei conta disso agora, quando ele tinha que ir embora, de preferência pra sempre ou pelo tempo suficiente para que eu pudesse pegar todas as fotografias, que estariam amarelando e perdendo o brilho, e sentir uma pontada no estômago, soco no coração, essas coisas piegas, que costumam chamar saudade, carência afetiva, falta, amor, sei lá.
Vamos, rapazinho, é para o meu, para o seu, para o nosso bem. Principalmente para o nosso bem, para o nosso passado, por todos os abraços, beijos, mentiras sinceras ou nem tão sinceras assim, ah, vai dizer que não lembra? vamos, toma aqui seu coração, segura ele, cuida bem dele ou encontra alguém que faça isso pra você. Ele se levantou. Isso, levanta, dá um passo e depois fica mais fácil dar outro e outro e outro, até chegar no nosso quarto, desculpe, m-e-u quarto e pegar suas malas. Eu tentava de qualquer forma convencê-lo, mas ele permanecia irredutível.
Mas se eu pegar minhas malas eu solto meu coração, alegou. Me dá aqui esse coração, pega as malas, joga lá no sofá e eu ponho o coração lá dentro, depois, quando você estiver bem longe, decide o que fazer com ele. Naquela hora ele finalmente me olhou nos olhos, estendeu a mão com o coração e disse que preferia deixá-lo comigo.

-Ok, deixa aí, depois eu vejo o que fazer, mas agora vai...

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