quarta-feira, 9 de junho de 2010

Carta à mãe

Mãe,

Só hoje eu resolvi desfazer as minhas malas, ainda cogitava desistir da minha fuga, voltar à sua casa pra me esconder novamente debaixo das suas asas e não ter de ir até a padaria caso quisesse pão e leite. Não tentei me convencer de que deveria ficar, esperei a decisão vir de dentro e ela veio. Fiquei aqui e finalmente desfiz as malas.
Me alimentei bem nesses primeiros dias, já aprendi o caminho da padaria e a pedir leite e pão ao padeiro, já sei deixar a torrada não-tão-torrada, não-tão-seca, não-tão-oleosa e gostosa como as que você me fazia, já me habituei a forrar a minha cama e às vezes bagunço na esperança de que você apareça e reclame. "Como uma menina é tão sem-ordem nesse mundo, meu deus?"
E tem sido assim, tenho caminhado contra o vento, sem lenço, sem documento, vivido mais do passado do que do presente. E o futuro? Ah, esse nem se vê. Melhor não comentar o que é incerto, é só sentar e esperar comentando o que já foi. Falando sempre no pretérito, claro.

Filha

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