sábado, 3 de janeiro de 2009

Bem me quer, bem me quer

Lá estava a garotinha, seus óculos, suas malas repletas de sonhos, seu sorriso antigo meio de lado, seus medos, sua imaginação, seus delírios e suas fantasias.

Havia outro alguém, outros óculos, outro sorriso antigo meio de lado, outros medos, outra imaginação, outros delírios e outras fantasias.

A cidade ainda dormia. O sol acordava e sorria. Sorria para eles. O sol era deles, o mundo era deles. Mas isso não importava.

Não havia música, havia o silêncio, mas palavras não se faziam necessárias naquele momento nem em qualquer outro momento. Não havia mais nada para se dizer, apenas para se sentir. As palavras e os medos eram dispensáveis. Só se faziam necessários os sonhos, os sorrisos antigos meio de lado que se completavam, as imaginações, os delírios, as fantasias... E os olhares. Olhares espertos, atentos.

Porém seus olhares não estavam atentos à cidade que dormia ou ao sol que acordava e sorria para eles. Talvez estivesse atentos apenas àquela leve sensação de borboletas no estômago que os preenchia. Talvez estivessem atentos aos seus pensamentos. Talvez compartilhassem o mesmo pensamento, e o mesmo desejo.

Lá estavam eles diante do analgésico contra o tédio e a melancolia: Eles.

Havia ainda flores vermelhas de esquina, um banco, mãos e bocas.

Sentaram-se no banco, com as mãos tiravam pétala por pétala de cada flor vermelha de esquina e com a boca repetiam:

"bem me quer, bem me quer, bem me quer"

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Créditos ao Jorge, por ter sido fundamental na criação do texto, e felicitações pelas 2 décadas sem morrer.


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