quinta-feira, 9 de abril de 2009

A inimiga mortal da arte



A fotografia, considerada como arte nos dias atuais, atraiu a atenção do público, mas sofreu grande oposição por parte de artistas plásticos e críticos de arte no século XIX, momento de sua criação. O mais explícito deles foi o francês Charles Baudelaire, escritor e crítico de arte, que, na sua obra "o público moderno e a fotografia", deixou clara a sua aversão à novidade em passagens onde dizia que, sendo o aperfeiçoamento da fotografia algo meramente tecnológico, e sendo a tecnologia contrária à poesia, a fotografia nunca poderia se unir à arte. Baudelaire dizia ainda que "o gosto exclusivo do verdadeiro oprime o gosto do belo", denominando então a fotografia como "inimiga mortal da arte". Ou seja, a arte tinha como principal papel modificar a realidade e a fotografia mostrava esta sem alterações e, já que as duas são paradoxais, a fotografia poderia acabar com a beleza da arte, visando que o público naquele momento voltava as suas atenções exclusivamente para essa, como explicitou quando disse que "a partir do momento em que a fotografia se desenvolveu, nossa sociedade esquálida, narcisista, correu para admirar sua imagem vulgar em uma lâmina de metal”. Para Baudelaire não havia graça em representar a realidade, porque a realidade não o satisfazia e "pior do que os fotógrafos eram os pintores modernos influenciados pela fotografia", pois estes tentavam cada vez mais representar o que viam com perfeição, mostrando o máximo de detalhes e sem beleza. 
Quase dois séculos depois, com o avanço tecnológico e acesso facilitado, a fotografia é uma das mais encantadoras e democráticas formas de arte e expressão, que consegue unir-se facilmente à poesia e ser traduzida de mil maneiras por qualquer indivíduo. 
E Baudelaire talvez até estivesse certo, a fotografia em si não pode ser vista como arte por eliminar a beleza, mas ele certamente mudaria sua opinião se houvesse conhecido o famoso photoshop, que consegue deletar os defeitos reais com apenas um clique. 

Na foto: Baudelaire admirando sua imagem vulgar numa lâmina de metal.

Referência bibliográfica: BERMAN, Marshall. Tudo o que é sólido desmancha no ar: A aventura da modernidade. Páginas de 173 a 176. 1982. Ed. cia das letras.

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