segunda-feira, 8 de junho de 2009

Viva a sociedade alternativa

Sebastião me surgiu num dia qualquer há uns três meses atrás quando eu resolvi sair atrás de alguma coisa pra fotografar.
Com os pés descalços, um violão, algumas mochilas, olhos espertos, seu sotaque e charme argentinos e muito artesanato, Sebastião me contou sobre sua viagem: Ele partira da Argentina e pretendia chegar ao Pará, em alguma fazenda com nome em Tupi, não tinha dinheiro no bolso, sobrevivia só com o que conseguia com a venda do artesanato e muitas vezes dependia de carona para se locomover de uma cidade até a outra.
Eu já havia percebido à primeira vista que Sebastião era mais um hippie, mas até ali eu ainda achava que meter o pé na estrada sem um tostão no bolso era coisa de filme americano com temas setentistas ou sessentistas ou contos do meu pai falando da juventude hippie com calças boca-de-sino dele. Até porque o meu conceito de hippie estava aquém do verdadeiro, original, tradicional. Para mim, hippie era só aquela galera com as pulseirinhas a venda na orla com suas roupas surradas em tons amarronzeados. Essa coisa do nomadismo, liberdade de expressão, paz e amor era coisa de um passado distante e, quiçá, inexistente. Por pura curiosidade, eu fui atrás das origens e causas desse movimento.
No Brasil, O movimento hippie só surgiu uma década após seu surgimento nos Estados Unidos devido a repressão militar ainda existente na década de sessenta, sua maior expressão foi o "tropicalismo". Nos EUA, seu surgimento sucedeu o fim da segunda guerra e foi concomitante à guerra do Vietnã. Assim como a arte, as expressões dos indivíduos de uma sociedade estão sempre ligadas às condições sociais e políticas do seu lugar de origem. Os hippies pregavam a paz mundial, o respeito a natureza e o amor ao próximo, repudiavam as guerras e todos os produtos do capitalismo. Tudo o que era oposto à real situação dos países em que se instalaram.
Hoje os hippies perderam a expressão no cenário mundial, mas seu legado para a sociedade do século XXI é facilmente percebido no alto consumo de drogas por alguns setores da sociedade, a liberdade sexual, maior aceitação do homossexualismo e expressividade feminina no cenário mundial. Existem apenas pouquíssimos seguidores, os neo-hippies, que comem carne, vendem pulseiras, vivem em meio à sociedade consumista, alheios às imposições, aceitando sem reivindicações, fazem história na UFAL e usam camisas do Che Guevara. Mas, nem de longe, os hippies ufalinos se comparam aos hippies da década de 60 com suas calças bocas-de-sino e camisas com desenhos "psicodélicos", fazendo apologia ao uso de drogas químicas que surgiram na mesma época do movimento. Até porque o papo hoje é mais natural... Sebastião que o diga, em sua fazenda de nome tupi com culto às vaquinhas e plantação de açaí.

4 comentários:

  1. Adorei isso, Renata. Estive esses dias conversando com uns 'hippies' daqui da minha cidade, em Minas, mas infelizmente não tive tempo suficiente pra tirar mais informação dos caras. Sou meio fascinado com as histórias malucas que eles devem ter pra contar das andanças.

    Aquele abraço.

    ResponderExcluir
  2. Ah, e a fotografia tá fantástica.

    ResponderExcluir
  3. Engraçado que o hippie de hoje hove "semente, semente, semente, se não mente fale a verdade: de que árvore você nasceu?"

    Err

    ResponderExcluir
  4. Acho que todo mundo já quis fazer parte da Sociedade Alternativa. E sobre uma vida mais livre tem um filme ai que se chama "Na natureza selvagem" muito bom.

    ResponderExcluir